sexta-feira, 7 de março de 2014

Filhas das filhas.


Pode haver algo tão importante a ser lembrado do que o fato de sermos filhas de filhas?


Descendentes de linhagens tão antigas, tão profundamente antigas que somos quase filhas das primeiras deusas. Possuíamos a sabedoria das ervas, seus poderes de cura, seus aromas, seus sabores. Com o  trigo, dividíamos o pão, tudo gerava a vida, tudo sustentava a vida... A colheita, o forno, o pão...


E, claro, fiávamos, fiávamos e fiávamos...os fios da vida, até os nossos dias. Das tramas que se faziam, às tramas  que nos possuíam. Já fomos donas de um silêncio servil, moeda de troca, peças de tratados políticos, de corpos esquecidos, escravizados, de rezas cheias de lágrimas.

                   

Sobrevivemos aos anos, milhares deles, mesmo depois de termos sido deusas...veneradas nas florestas, nos mares e nos rios... Guerreiras e companheiras, mães e filhas de filhos, maridos e pais...


Celebraram a beleza, possuíram os corpos, amarraram os laços...poetizaram nossas almas com a ilusão de nos fazermos calmas,  ainda assim, entre todas haviam aquelas...sempre aquelas, ou todas nós, que por todas deixaram de ser o que se queria para ser o que queria.

   Mais que isso, sobrevivemos a todo tipo de inteligência, negligência, violência, ignorância, intolerância, estamos aqui. Nem que pela própria necessidade da espécie sobrevivemos a toda história, a todo conhecimento ocultado, a todas as formas de tornar um ser algo, alguma coisa.


Há muito que se falar de positivo, talvez com o distanciamento do tempo, vejamos as coisas dessa forma, talvez quem viveu há séculos percebesse o seu ser, os seus limites como algo natural, alguns diriam que sim. Não sei se por um momento, passou um pensamento, de não ser assim, de ser diferente.


Somos seres tão complexos, tão revolucionários, tão devotos, tão apaixonados, tão determinados que as vezes busco a definição do feminino em todos esses adjetivos masculinos.


Em 08 de março, só tenho um profundo sentimento de gratidão, por todas que me antecederam...
   
                                           


Por todas aquelas que permitiram a minha liberdade de ser, que me deixaram essa herança de filha para filha. Deixo para aquelas que talvez como eu, gozam da liberdade de exercer a sua totalidade um pedido: Não esqueçam, não esqueçam delas que viveram antes de nós, muito antes de nós e que também, morreram por nós.